Foi durante o Colmeia Weekend em Vitória-ES que tive o privilégio de conhecer Rosamaria Borges, uma mulher de 41 anos, casada com Vinicyus Rizzoli e mãe de Pedro e Miguel. Sua trajetória é marcada por superação e resiliência. Pedro, seu filho mais velho, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), enquanto Miguel, o caçula, tem apenas quatro anos. Formada em Geografia e tecnóloga em Segurança Pública, Rosamaria é também policial militar da reserva, após 16 anos de serviço. Atualmente, ela se dedica à confeitaria, uma paixão que começou a explorar ainda em 2014, enquanto atuava na polícia.
A confeitaria entrou em sua vida inicialmente como uma forma de complementar a renda, quando começou a fazer brigadeiros e trufas. Ao perceber que o talento estava sendo bem recebido, Rosamaria investiu em cursos e se apaixonou pela arte de confeitar. No entanto, o caminho não foi fácil. No final de 2015, uma crise de hipoglicemia e, em março de 2016, uma lesão no braço a afastaram tanto da polícia quanto da confeitaria. Durante esse período, ela dependia da ajuda de sua mãe, Deusdette Caetano, e de seu irmão Paulo Victor, para cumprir os compromissos já assumidos, mas nunca deixou de estudar. Esse foi um período difícil, no qual chegou a passar meses sem conseguir realizar atividades básicas, como tomar banho sozinha.
Em 2019, ela foi reformada da polícia, sendo considerada incapaz para o serviço aos 35 anos, o que a levou a um processo de depressão. “Foi um momento muito difícil para mim, demorei anos para aceitar que estava ‘aposentada’. Mas a confeitaria me resgatou”, conta Rosamaria. Ela encontrou na confeitaria um caminho de volta à alegria, especialmente após o nascimento de Miguel e o início da pandemia, período em que começou a fazer bolos para a família e amigos.
Em 2021, Rosamaria decidiu retomar a confeitaria de forma profissional. “Foi na Páscoa que decidi voltar. Falei com meu marido: ‘Ou volto ou vendo tudo e não faço mais’. E ele me perguntou: ‘Mas não é isso que te faz feliz?’. Foi então que voltei, agora como empresária”, relembra. Contudo, o retorno foi desafiador, pois ela não estava acostumada com as redes sociais, algo crucial para o crescimento de seu negócio.Devido à posição que eu ocupava anteriormente, não era permitido que eu me expusesse, e por isso eu não sabia como fazer isso”, explica.
Foi em 2022, através do projeto “Delas”, do Sebrae, que Rosamaria percebeu a existência de outras mulheres com experiências semelhantes e o quanto é valioso fazer parte de uma comunidade, trocando informações e apoiando umas às outras. “Em um mundo onde as mulheres muitas vezes se sentem excluídas, esse suporte transformou a minha vida. Percebi que, para ter sucesso, não basta estar na cozinha; é preciso organização, suporte financeiro, convívio com outras pessoas e capacitação constante. Tive que mudar minha mentalidade para ir além das limitações que me impunha no passado”, relata.
Com a mentoria de Jucy Freitas, especialista em negócios para confeiteiras, a empreendedora foi levada a um patamar completamente diferente do que esperava. “Antes, eu queria apenas ganhar dinheiro, mas Jucy me fez refletir sobre o meu valor, o que eu realmente queria para o meu futuro e quanto isso custaria. Hoje, consigo aplicar esses aprendizados na minha confeitaria e visualizar um futuro mais claro e promissor”, comenta Rosamaria.
Hoje, a empresária trabalha com a Confeitaria Tradicional e Sem Açúcar, conciliando os dois mundos em uma única mesa. “Eu quero mostrar que é possível ter sabor e textura sem açúcar. É um desafio, mas quero que as pessoas entendam que não precisam escolher entre um ou outro. O meu objetivo é proporcionar a experiência de ter ambos reunidos numa mesa de família”, afirma. No entanto, ela reconhece que enfrenta resistências por parte de quem espera que ela se especialize apenas em uma área.
A confeitaria se tornou um projeto de vida para Rosamaria, que agora planeja repaginar sua marca, RosaMariaDocesGourmet. “Quando comecei em 2014, o nome fazia sentido, mas hoje o termo ‘gourmet’ está banalizado. Quero algo que reflita melhor o meu trabalho e estou disposta a começar do zero para construir essa nova identidade”, revela.
Além de empreendedora, Rosamaria também atua como instrutora no Senac, onde ensina confeitaria e compartilha seu conhecimento com outros. ‘No ano passado, voltei a dar aulas e foi uma experiência incrível. Percebi que estava no caminho certo e que compartilhar o que aprendi ao longo da minha jornada é algo que me completa’, destaca.
Para quem está começando na confeitaria ou busca nela uma solução para suas dificuldades, Rosamaria deixa um conselho: “Capacite-se e busque ajuda. A jornada do empreendedorismo pode ser solitária, mas com suporte e estudo é possível alcançar seus objetivos. Eu tive momentos de dúvida, mas foi o apoio da minha família e dos mentores que me ajudou a continuar”.
Rosamaria Borges é um exemplo de resiliência, que soube transformar desafios em oportunidades, sempre com a certeza de que o mais importante é continuar aprendendo e evoluindo. Hoje, ela visualiza um futuro próspero para sua confeitaria, com planos de abrir uma loja física, ter uma equipe e, quem sabe, expandir o conceito para outros lugares. “Eu quero levar essa ideia de inclusão e sabor para além da minha cozinha. Quero que todos tenham o direito de desfrutar da felicidade que a comida traz”, conclui.
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ALAIDE EVANGELISTA DA SILVA
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