O mercado de foodservice no Brasil é um setor dinâmico e em constante crescimento, sendo essencial para a economia e o bem-estar da população. No entanto, sua operação intensiva pode resultar na geração de grandes volumes de resíduos e lixo, o que representa um desafio significativo tanto para a sustentabilidade ambiental quanto para saúde pública. Abrangendo uma ampla gama de atividades, desde a produção agrícola até a comercialização e o consumo de alimentos, resquícios são gerados em cada parte deste processo. Nestes casos, o descarte de cascas, sementes, bagaços e restos de alimentos são comuns. Além disso, o setor também sofre com a produção de resíduos que incluem embalagens, sobras de comida e produtos perecíveis que não foram vendidos a tempo.
De acordo com a MUSA, empresa que está reinventando a cadeia do lixo, estima-se que o Brasil produza cerca de 82 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, e uma parte significativa desse total vem do setor alimentício. Já o lixo gerado em eventos em geral soma 11 mil toneladas por ano. Um dado alarmante é que apenas 4% dos resíduos coletados são reaproveitados e 39% é despejado a céu aberto e de maneira inadequada.
A falta de uma gestão adequada e eficiente desses resíduos contribui para uma crescente crise ambiental e sanitária. Ambientalmente, o descarte incorreto destes itens pode levar à contaminação do solo e das águas, além de gerar gases de efeito estufa, como o metano, que é liberado durante a decomposição de resíduos orgânicos em aterros. A acumulação desses tipos de lixo em aterros sanitários contribui para a degradação ambiental e pode afetar a qualidade de vida das comunidades vizinhas. É uma questão que todo o setor passa, sem exceção, e precisamos ficar cada vez mais atentos.
Socialmente, a má gestão de resíduos também afeta a saúde pública. Resquícios alimentares podem atrair roedores e insetos, que transmitem diferentes doenças e aumentam o risco de contaminação. Além disso, a ineficiência na gestão pode levar a problemas de infraestrutura e a um aumento nos custos de limpeza e manutenção urbana. Para enfrentar os desafios impostos pela geração de resíduos no mercado de foodservice, é essencial adotar uma abordagem integrada e sustentável.
Nas pesquisas realizadas por nós com foco nos operadores que atuam no setor, questões voltadas ao ESG seguem em alta. Em agosto deste ano, produzimos uma nova edição do levantamento “Tendências do Ecossistema de Foodservice” que apontou que 48% dos independentes e 53% das redes respondentes investem em ações com foco na redução de desperdício de alimentos, 52% dos independentes e 54% das redes em sustentabilidade e 52% dos independentes e 44% das redes em gestão de resíduos, ações que estão diretamente ligadas a essa preocupação da geração e destinação correta do lixo. Quando levamos em conta os números dos Top Performers (com vendas superiores ao ano anterior e lucro), eles estão aderindo mais a estas práticas, com 61% investindo em sustentabilidade, 59% na redução do desperdício de alimentos e 60% na gestão de resíduos.
Como catalizadores de informações e conhecimento no segmento de alimentação preparada fora do lar, é nosso dever incentivar empresas que atuam com alimentação a investir em práticas que visem a redução do desperdício desde a produção até o consumo. Isso inclui técnicas de planejamento de produção, otimização dos processos logísticos e a promoção de uma cultura de consumo consciente. Outra questão importante, é incentivar a separação e o tratamento adequado dos resíduos, de acordo com diferentes tipos e destinações. A compostagem de resíduos orgânicos e a reciclagem de embalagens, por exemplo, podem reduzir significativamente o volume de lixo enviado aos aterros sanitários e promover a reutilização de materiais.
Também é essencial ressaltar a importância de os negócios do setor pensarem em como ter cardápios de baixo desperdício na concepção do menu e seus ingredientes, como uma forma de se antecipar ao problema que estamos tratando. Uma opção que já ocorre em alguns estabelecimentos é ter soluções de compostagem in loco, quando há viabilidade para este tipo de projeto.
As marcas também devem investir em campanhas de conscientização para os consumidores, produtores e prestadores de serviços sobre a importância da gestão adequada de resíduos e as práticas sustentáveis. Neste quesito e já seguindo o objetivo de reduzir os impactos ambientais, durante o GALUNION Insights deste ano, evento realizado em dois dias voltado para mais de 500 executivos e profissionais do mercado de foodeservice, que contou com painéis, palestras e momentos de degustação, contamos com uma parceria com a MUSA, para realizar o gerenciamento de resíduos sólidos.
Dessa forma, durante o evento foram coletados e destinados mais de 2.037 quilos de resíduos no total. Por meio desta iniciativa, tivemos um espaço economizado de mais de 4,91 metros cúbicos em aterro sanitário, o equivalente a 16 geladeiras. Em relação a quantidade de gás carbônico, esta ação deixou de emitir 2.783,59 quilos de CO2, economizando o equivalente 14.650 km rodados por um veículo com combustível fóssil. Tais dados evidenciam como uma gestão de resíduos eficiente gera valor para o setor alimentício, uma vez que os consumidores apoiam e apreciam essas iniciativas.
Como conclusão, sabemos que a geração de resíduos e lixo no mercado de foodservice no Brasil é uma questão complexa e que requer a colaboração e co-criação de todos os setores da sociedade. A integração de práticas sustentáveis, a educação e até mesmo a implementação de políticas públicas eficazes são passos cruciais para tratarmos melhor este tema. Ao adotar uma abordagem proativa e consciente, é possível reduzir o impacto ambiental e promover um futuro mais sustentável para o setor alimentício e para o país como um todo.
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CAROLINE SOUZA SANTOS GARCIA
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