O Brasil celebra no dia 3 de outubro o Dia Nacional das Abelhas. As abelhas são responsáveis pela formação de grande parte dos frutos, essenciais para a preservação da vida em nosso planeta, além de oferecerem uma deliciosa iguaria apreciada por muitos: o mel. Essas criaturas, pertencentes à família Apidae, têm importância indiscutível no ecossistema terrestre. Originadas há mais de 135 milhões de anos, na África Tropical, impulsionadas pelo surgimento das plantas com flores (Angiospermas, entre 135 e 140 milhões de anos atrás), as abelhas estabeleceram uma relação evolutiva vital e produtiva com essas plantas.
Atualmente, existem cerca de 21 mil espécies de abelhas catalogadas, das quais 2 mil são brasileiras, sendo 500 delas sem ferrão. Embora apenas uma pequena parcela dessas espécies seja melífera, ou seja, produtora de mel, todas, sem exceção, desempenham o papel de polinizadoras, evidenciando sua importância para a reprodução vegetal.
Com isso, é possível observar a real importância desses insetos para os vegetais e, consequentemente, para a produção de alimentos. Embora existam espécies agrícolas que não dependem das abelhas, como as gramíneas (milho, cana-de-açúcar etc.), 80% das plantas utilizadas na alimentação necessitam da polinização dessas criaturas. Mesmo plantas que conseguem se polinizar sem a presença das abelhas podem aumentar sua produção em até 30% com a ajuda delas.
Diante de tais informações, podemos afirmar que as abelhas têm um papel fundamental na manutenção da segurança alimentar do planeta. Contudo, essa importância parece ser pouco reconhecida entre muitos agricultores e legisladores.
Um exemplo disso ocorreu em 2022, quando mais de 35 defensivos agrícolas, anteriormente proibidos devido ao seu alto potencial destrutivo, foram liberados. Entre eles, o Fipronil, um inseticida utilizado contra insetos sociais, como formigas, cupins e abelhas, foi amplamente usado na agricultura até sua proibição pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em janeiro de 2024.
Embora o uso excessivo desse produto tenha causado grandes estragos nas populações de abelhas, as espécies nativas são as mais prejudicadas por esse manejo inconsequente. De acordo com a pesquisadora Ana Paula Salomé Lourencetti, da Universidade Federal de São Carlos (2023), as espécies nativas são mais suscetíveis aos produtos químicos agrícolas. Um exemplo trágico ocorreu em Santa Catarina, em 2019, quando o uso impróprio do Fipronil em lavouras de soja resultou na morte de mais de 50 milhões de abelhas em apenas um mês. Isso reforça a necessidade de políticas públicas eficazes para proteger esses insetos.
Além da importância agrícola, é preciso considerar o mercado melífero, que movimenta mais de R$ 950 milhões por ano no Brasil, com uma produção média anual de 61 mil toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outro ponto relevante é a contribuição das abelhas para a manutenção da biodiversidade vegetal. Esses insetos desempenham um papel inimaginável para muitos: a simples coleta de néctar, que resulta na polinização cruzada entre plantas, promove uma evolução mais rápida entre as espécies, garantindo variabilidade genética e promovendo a diversificação. Segundo o artigo dos pesquisadores Tomas Dorey e Florian Schiestl, publicado na revista Nature Communications (2024), a polinização natural realizada pelas abelhas impulsiona a diversificação das plantas, um fenômeno que não ocorre quando a polinização é feita manualmente.
Assim, fica evidente que as abelhas, apesar de muitas vezes incompreendidas, são uma peça insubstituível na natureza. Sua ausência pode desencadear problemas devastadores para o desenvolvimento vegetal global e a segurança alimentar de todos.
(*) Anderson Roberto Benedetti é biólogo e Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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